Salamargo é o pão de cada dia;
pão de suor, amargonia.
Armargura por viver nesta agonia,
salamargando a tirania.
.
Salamargo é o tirano, segundo a segundo
Amargo sal que salga o mundo.
Assassino das manhãs, carrasco das tardes,
ladrão de todas as noites
e de seu mistério profundo;
carcereiro de seu irmão, a transmudar
a fantasia em noite de alcatrão.
.
Amargo é fado de nascer escravo,
amargonauta em mar de sal,
nesta salsa-ardente irreal em que cravo
unhas e dentes, buscando viver
como um cravo entre decadentes.
.
Salamargo, tão amargo quanto
o mais amargo sal, é comer
o pão de cada dia sob o tacão
da tirania. Um pão amargo,
sem sal, pobre de amor e fantasia.
Salamargo existir sem poesia.
.
(Eduardo Alves da Costa, in_No Caminho, Com Maiakóvski. 2003)