Sábado. 28 de Setembro de 1996. Chegou como quem não quer nada Despretensiosa Meio que disfarçada Silenciosa... Num dia qualquer Fazia frio ou calor - Tanto faz Não faz diferença agora. [M.S.]
Categoria: Contos, crônicas, poesias & afins
Flores e Armas de Fogo
Hoje eu não devo falar de flores nem de armas de fogo não devo e não posso consentir que a cada instante a morte abrace um princípio e que esse princípio seja esquecido postumamente pelos meus camaradas com sonhos imediatistas... A morte não é a mera morte - é o puro e ingênuo esquecimento. De nada vale se lamentar, é inútil e insensato Mas é necessário pensar e repensar e mais necessário ainda: agir - ação consciente que está sendo deixada de lado... Não deveria ter dito porque hoje eu não devo falar de flores nem de armas de fogo. [M.S.]
Imagem em destaque extraída de Exame.com
Domingo Deserto
DOMINGO comum, sem gritos ressoantes aguardo o novo dia que de tão esperado já envelheceu não é noite, não é dia é tarde tarde demais para ficar esperando tarde demais para estar distante e fingir-se ao lado e fingir-se desperto e fingir-se tão cheio quando o coração - incerto - está DESERTO. [M.S]
Há de Ser
(Uma menina sumiu de sua casa fugiu - ninguém mais a viu?) Enquanto espero a chegada em incerta hora lembro dos que já foram embora lembro do que eu antes era vejo o que sou agora - lembro de você. Esta é sim uma sucessão de ideias e imagens desfiguradas e sons dissonantes e gostos deturpados e impressões casuais. (Ela só tinha 14 anos quando se entregou àquela vida àquela venda indiscriminada E aí, então, você chega e acha normal: "O mundo é isso agora como antes fora e há de ser - você vai ver..." E eu, ainda impressionado sinto-me mesmo culpado pelo que não fiz justamente por nada fazer - me calar, não combater... "Mas ela diz que gosta dessa vida fácil tão desconexa mas tanto vício assim não é tão difícil melhor passar o dia, esquecer e não tentar entender". Ela ainda tinha o brilho nos olhos a alma insípida o corpo inodoro quando se deixou levar numa noite como essa. Ela também sonhava ela sabia sonhar! agora vive um pesadelo verdadeiro - subvida... perdida. "Mas ela diz que tem joias tem ouro, tem colares e que não dorme porque não sonha e não sonha porque cresceu". Apesar de tudo, não consigo compreender) Porque lhe amo é que vou estar aqui tão longe aqui tão perto da solidão. Porque não lhe odeio é que fica complexo esquecer você compreender o porquê quero lhe ver. [M.S. - Setembro /1998]
Imagem em destaque: Obra de Suzane Valadon, extraída de 3 Minutos de Arte
Visão da Cidade
Vejo a usina... Não posso transmitir a imagem dela Com a avenida ao seu lado Com as casas ao seu redor Com as fumaças saindo das chaminés E acima o céu cinzento. Santo André, daqui, é tão pequena, Ainda assim não é tudo... Esses prédios, esse concreto, Essa dura realidade (realidade de concreto!) Ainda inspira alguma poesia... Pedaços de mata devastada Ocupados pelas casas, prédios, ruas, Como uma ferida Que jamais vai cicatrizar. Como uma infecção Intensa, intensa... [M.S. - 1995/96]
Imagem em destaque: Flickr.com