Caverna da Pedra Lascada, junho de 2014.
“A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalhas e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que não tem voz” (Ferreira Gullar – Corpo a corpo com a linguagem).
Após umas merecidas férias, o Blog da Pedra Lascada vai retornando as suas atividades, inaugurando uma nova fase na dolorosa ação de pensar e na ainda mais dolorosa e ousada ação de tornar público o que pensamos.
Dizer o que pensa é expor e se expor. É arriscar-se ao diálogo, porque quem diz também ouve (quando não sofre ameaças, ou agressões mesmo).
Tempos difíceis estes em que os fascistas começaram a sair dos seus armários, fedendo à naftalina e bola de sebo, patrocinados pelos governos de plantão – explicitamente patrocinados pelos da velha direita e não menos diretamente pelos da nova direita encastelados no governo federal, e que insistem em tentar confundir os desavisados, reivindicando para si a – falsa – alcunha de esquerda.
Fazer dos pensamentos reflexões e das reflexões movimento é uma tarefa árdua e, como referia-se Paulo Freire em relação ao mundo, “difícil, urgente e necessária”. É uma tarefa que exige ação coletiva e pluralidade de reflexões – não dizemos pluralidade de opiniões porque, em tempos de redes sociais, todo mundo ficou vorazmente opiniático, mas de uma superficialidade nenhum pouco inédita! E ai de quem questionar publicamente o opiniático, este ardoroso estandarte do senso-comum! É cutucar e ouvir: “Respeitem a minha opinião”! Como se dissesse, meramente: “é questão de gosto, e gosto não se discute”.
Pois bem! Respeitamos sim a opinião de todo mundo e de cada um. E nos reservamos o direito de também ter opiniões mas, mais do que opiniões, desejamos construir reflexões, porque “achar que…” não é “saber que…” – e de uma coisa temos certeza: sabemos tão pouco que precisamos pensar sobre o que achamos que sabemos para então não ter apenas opinião sobre, mas ter conhecimento sobre. Sobre o que pensamos, sobre o que fazemos, sobre o que pensamos a respeito do que fazemos, sobre o que fazemos a respeito do que pensamos…
Lembrando novamente Paulo Freire: “a prática de pensar a prática é a melhor maneira de pensar certo”.
E pensar a prática é pensar a realidade, sobre a realidade, sobre os temas do cotidiano, sobre as questões conjunturais. Tarefa que requer muitas cabeças e muitos pensamentos…
Assim vamos agregando ao Blog Pedra Lascada novas ideias, novas vozes, novos seres pensantes que, embora possam ter pontos-de-vista diferentes, compartilham concepções e princípios afins.
Coragem! Apenas começamos…