Por Vinicius Canhoto
Caro Werther, inquieta-me o coração receber tuas aflições por meio das cartas que chegam às minhas mãos, cada vez mais trêmulas, a cada chegada do carteiro. Sofro por ti, por mim, por nós ao ler nas tuas palavras que a cada dia morres mais um pouco. No entanto, por mais que me fales em tirar-te a própria vida, é justamente a vida que te tiras dela.
Meu amigo, embora os livros de História digam que a Idade dos Metais ficou na pré-História, te digo que ainda estamos na pré-História e que a Idade dos Metais ainda segue. Vivemos a Idade do Ouro de Tolo, ou melhor, a Idade do Ouro dos Tolos e, por isso, artistas em nosso convívio perecem. Nesta Idade, na nossa idade, os sonhos logo se vão.
Vejo-te sonhando, despertando, nascendo, morrendo e ressuscitando, mas não sei até quando.
Amo-te mais por saber que…
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Há coisas que o texto não diz e precisam ser ditas. Que amizade não é um item a ser trocado por um armistício. Que amizade não é espólio de guerra a ser cedido em um acordo de paz. Que a cabeça de um amigo não se negocia. Que cabeças cortadas não voltam para o pescoço. Nevermore. Anyway.
Faltaria acrescentar…
“Não recomponhas tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era”?