Um fantasma ronda São Bernardo: o fantasma do comunismo (só que não…)

Sísifo, de Tiziano - 1549
Sísifo, de Tiziano – 1549

Cansei do clima de macarthismo que certos colegas estão instalando nas redes sociais.

A liberdade de consciência política e filosófica foi conquistada com muita luta e sangue contra a ditadura brasileira que se perpetua na mente colonizada de alguns seres.

A despeito de propostas mirabolantes e quiçá tentadoras (tentadoras a quem precisa se alimentar de ilusões), projetos autoritários de poder se revelam em discursos que tentam depreciar adversários acusando-os de “comunistas”, “socialistas”, de “esquerda” etc e tal, como se crime fosse, ou fosse desonra ou ignomínia ser de esquerda, ser socialista, comunista, anarquista…

Até a democracia burguesa, pela constituição federal, estabelece como direito fundamental e inalienável a liberdade de pensamento, expressão  e consciência político-filosófica!

Se você acredita que um ou outro candidato seja o salvador da lavoura, (quase) tudo bem, pois tem gente que acredita em outras coisas fantásticas como loura do banheiro, saci-pererê, fada dos dentes, democracia real e justiça social sob o capitalismo…

Independente da crença, continua sendo um direito acreditar, mesmo que não perceba que esteja sendo expulso da lavoura, cada vez mais expropriada e queimada pelos que se apresentam como salvadores.

Agora, o que não vale é tentar tirar voto do outro (porque, sejamos francos, não se trata nem de ganhar voto) se sujeitando a depreciar a imagem alheia alcunhando o adversário de esquerda, como se ser de esquerda fosse um desvio de caráter. Até porque nenhum dos dois candidatos nem seus aliados e pretensos partidos neo-apoiadores de fato são de esquerda.

Não adianta nada bradar aos quatro ventos que eleição é a festa da democracia, que candidato “X”, “Y” ou “Z” respeita a todos, independente de classe social ou partido, se tanto o candidato “X”, “Y” e os “Zs” que os apoiam insistem em fomentar o ódio (e portanto a irracionalidade) como forma de fazer política.

Quero acreditar que muitos fazem isso de forma inconsciente, pois do contrário estariam agindo de má fé mesmo – o que seria uma tremenda decepção em alguns casos… De qualquer forma, é certo que não se dão conta de que estão dando um tiro no próprio pé, pois atentam contra a liberdade de expressão, de pensamento e de concepção.

Essa prática é autoritária e carrega consigo um projeto déspota de poder porque rechaça a diversidade política que justamente é uma das condições necessárias à democracia e tenta impor como “verdadeiro” e “honesto” o pensamento único, uma visão de mundo unilateral, excludente, sem espaço para a pluralidade de ideias e de concepções.

Autoritária porque ao invés de fazer o debate de ideias e de concepções, de propostas e de projetos, reduz o debate “político” ao campo da depredação moral, do vandalismo intelectual que desafia o senso e o bom-senso, a ciência e a consciência; enfim, despolitiza o debate.

Parece até que estão sendo assessorados pela chapatrão (expert em campanhas caluniosas e em acusar os outros daquilo que ela mesmo faz)!

Politizar a política, para os que representam projetos de poder autoritários, é um risco… Afinal, que diriam os eleitores se se debruçassem a conhecer de fato quem são os candidatos? Se buscassem mesmo saber, a despeito das promessas de campanha, quais são os projetos políticos que na prática representam? Como votam e o que defendem enquanto parlamentares?  Como suas práticas, seus votos e seus projetos influenciam na vida da população em geral e dos trabalhadores? A quais bases (as mesmas bases) pertencem? Quem são seus (mesmos) financiadores? Quem são seus aliados de ontem que hoje estão com este, ontem estavam com aquele (e vice-versa) e passadas as eleições estarão (novamente) juntos?…

O que diriam se percebessem que tudo o que foi escrito até aqui podia ser ilustrado naquele poeminha simpático e trágico  do Drummond, que dizia que “João amava Teresa, que amava Raimundo, que amava Maria, que amava Joaquim, que amava Lili, que não amava ninguém”?…

E o que diriam se descobrissem (mas descobrissem de verdade!) que tal como a Lili do poema que casa com J. Pinto Fernandes  que não tinha entrado na história, a maioria dos políticos também não ama ninguém, noiva de uns, mas se casa com outros personagens igualmente ocultos, muito embora presentes?

O que diriam os eleitores se depois de conhecerem de fato os candidatos constatassem que por trás do discurso de adversários políticos (e de oposição ao que já vai tarde) existe essencialmente o mesmo projeto de poder que, tal como Maria ficou para tia, também manterá para tia a população em geral e os trabalhadores?

Esse discursinho fascistóide de tentar tirar voto do adversário acusando-o de “vermelho” já deu! Ofende a inteligência de quem consegue ligar lé-com-cré e que faz uso dos neurônios que possui!!!

No mais, eu sou de ESQUERDA e não tenho acordo nenhum com o PT, muito pelo contrário; sou COMUNISTA e não me identifico com o PCdoB, embora num passado distante já tenha me identificado.

Contudo, em nossa província, um candidato acusa o outro de fazer alianças com os supostos “comunistas”, mas (apesar de inutilmente negar) fez aliança com os petistas parceiros dos supostos “comunistas”; o outro acusa o adversário de fazer aliança com os petistas, mas faz aliança com os supostos “comunistas” base aliada dos petistas. Tudo e todos eles pelo poder…

Entretanto,  entre todos eles e seus aliados quais as diferenças políticas de fato? Nenhuma! Mas a crítica não é ao projeto político, mas sim à suposta concepção ideológica…

Quando o projeto é o mesmo, desviar o foco do debate político é um recurso cruel, porém poderoso: nada mais eficiente para os donos do poder do que manter a disputa política sem debate sobre o projeto político, pois como convencer o povo de que um projeto é melhor que o outro se ambos possuem a mesma base política e as mesmas propostas requentadas, com uma ou outra leve distinção?

Nos idos bem posteriores aos tempos da Pedra Lascada, a política do pão e circo dava conta; hoje em dia, o fla-flu parece ser suficiente para  acirrar os ânimos sem acordar a consciência e, assim, mover as torcidas como e para onde se deseja.

Por compreender que a faceta autoritária expressa na campanha de ódio dos dois candidatos é parte do programa de governo deles cujos partidos tradicionalmente votam contra direitos dos trabalhadores (pesquisem) é que se votasse em SBC votaria nulo, assim como voto nulo em Santo André no segundo turno.

Desculpe, ou antes, não me desculpe, mas não sou obrigado a escolher se o carrasco vai executar na guilhotina ou na forca. Anos de PT no poder já deveríamos ter aprendido essa lição, mas ainda haveremos de rolar muita pedras ladeira acima até despirmos de nossa carapuça de Sísifo.

(M.S.)

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