Li diversas críticas antes de chegar efetivamente à série. A maioria qualificava como “necessária”, mas li algumas bem duras que simplesmente recomendavam às pessoas que não assistissem, inclusive argumentando que há orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para que não se produza materiais desse tipo.
Fato é que, à medida em que eu ia assistindo, compreendi muito bem por que muitos conseguiram apenas dizer que a série é “necessária”.
Assumi diferentes papéis enquanto assistia: mãe, professora, adolescente, filha, aluna. Tem a ver com uma capacidade que precisa urgentemente ser exercitada na sociedade atual: empatia. Com essa história de “baleia azul”, então…
Bem, enquanto mãe, o que fica? Não é necessário um ambiente familiar turbulento para que o(a) filho(a) não procure os pais para conversar. E pode parar de achar que contigo não vai acontecer. Que você é muito atento(a), que no menor indício você dá umas chineladas e está tudo resolvido. Sim, vi muitos compartilhando nas redes posts prontos, preconceituosos e insensíveis que sequer expressam a sua opinião, porque muitos nem têm opinião. Mas reproduzem conteúdos prontos sem fazer a menor reflexão. Ou crê, na certeza de que é dotado de uma sabedoria sobre-humana, que irá conversar com o(a) seu(sua) filho(a), ele vai entender e vai ficar tudo bem. Ou ainda, e pior de tudo, você confia na educação que dá e, portanto, não há a menor chance do seu(sua) filho(a) falhar. De você falhar. Que coisa, não?! Detalhe: os pais da criança / adolescente que machuca a si mesmo não são os únicos que merecem ser mencionados. Você que tem muita certeza de que seu(sua) filho(a) não atentaria contra si mesmo(a), tem a mesma certeza de que ele(a) é incapaz de ferir alguém?
Como professora. Ual! Que tapa na cara! Na verdade, esta série deveria ser assistida por todos os educadores. Quantas vezes olhamos para os nossos alunos e não os vemos? Quantos pedidos de socorro são gritados no silêncio, pelos mais variados motivos, e seguimos surdos, sem achar que realmente deveríamos nos importar com isso?! “É um problema da família”, poderão justificar, mas se alguma ação nossa pudesse significar o fim do sofrimento de um aluno, nem assim valeria a pena se importar?! Quantas vezes minimizamos as atitudes de alunos cruéis?! E não damos chance nem à vítima nem ao agressor de serem pessoas melhores e genuinamente felizes?!
A série é necessária. A discussão sobre ela também. Não recomendo que deixem os adolescentes assistirem sozinhos, vou além, sugiro que os pais assistam antes dos filhos. Há reflexões que devem ser mediadas pelos adultos, não podemos abrir mão do nosso papel de educador, sejam pais, professores, líderes religiosos, etc.
Nunca minimize os problemas do outro. Seja melhor ouvinte do que conselheiro. Esteja junto, de verdade, e não apenas por perto. Se importe.
Obrigada.