Evidentemente, as classes sociais não se constituem de um todo homogêneo com sujeitos cujos interesses e princípios são os mesmos ou sequer similares, e nesse sentido há que se valer dos estudos culturais para compreender as ações, pensamentos e construções identitárias dos grupos no interior das classes. Nesse sentido, podem ser muito úteis e pertinentes as contribuições de Canen e Moreira quando defendem, por exemplo, que “às situações de violência real devem-se acrescentar os efeitos da violência simbólica decorrentes do processo de globalização excludente que, ao procurar homogeneizar manifestações culturais, termina por anular vozes e experiências dos grupos oprimidos”.
Outra questão: Hall e Silva, citados por Canen e Moreira compreendem que “as lutas pelo poder tendem a se desenrolar no campo simbólico e discursivo”, no campo da cultura. É fato que
“A presente ofensiva neoliberal precisa ser vista não apenas como uma luta em torno da distribuição de recursos materiais e econômicos (o que ela também é), nem como uma luta entre visões alternativas de sociedade (idem), mas sobretudo como uma luta para criar as próprias categorias, noções e termos através dos quais se pode nomear a sociedade e o mundo”. (DA SILVA: 2001: 16)
Portanto, não se trata disso ou daquilo, mas sim disso e daquilo. Trata-se de luta econômica, política e simbólica/discursiva”. Pelo mesmo motivo, não se pode prescindir da perspectiva histórico-cultural e da abordagem dialético-materialista – o marxismo ainda nos fornece elementos teóricos importantíssimos para a compreensão – e possível superação – da realidade.
Para finalizar, Frigotto (2001: 79) recorrendo à Marilena Chauí, afirma que, no âmbito teórico, o pós-modernismo (não só, mas sobretudo), agrega uma crise da razão à crise educacional. Importa-nos saber, uma vez que Canem e Moreira apropriam-se desta categoria ao refletir sobre o multiculturalismo na escola e na formação docente. Diz Frigotto:
Para esta autora, a crise teórica se manifesta, fundamentalmente, pela negação de quatro aspectos básicos: que haja uma esfera da objetividade e, em seu lugar, o surgimento do subjetivismo narcísico; que a razão possa captar uma certa continuidade temporal e o sentido da história, surgindo em seu lugar a perspectiva do descontínuo, do contingente e do local; a existência de uma estrutura de poder que se materializa através de instituições fundadas, tanto na lógica da dominação quanto da liberdade e, em seu lugar, o surgimento de micro-poderes que disciplinam o social; e, por fim, a negação de categorias gerais, como universalidade, objetividade, ideologia, verdade, tidos como mitos de uma razão etnocêntrica e totalitária, surgindo em seu lugar a ênfase na diferença, alteridade, subjetividade, contingência, descontinuidade, privado sobre o público”. (Chauí, 1993, pp. 22-3 apud Frigotto, 2001: 79, 80).
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BIBLIOGRAFIA
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VYGOTSKY, Lev Semyonovitch. A Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Trad.: José Cipolla Neto. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998 (Psicologia e Pedagogia)
SUÁREZ, Daniel. O Princípio Educativo da Nova Direita: neoliberalismo, ética e escola pública. In_ APPLE, Michael; GENTILLI, Pablo (org.). Pedagogia da exclusão: o neoliberalismo e a crise da escola pública. RJ: Vozes, 1995 (Coleção estudos culturais em educação). Cap. 09
FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo e Ousadia: o cotidiano do professor. Trad. Adriana Lopez. RJ: Paz e Terra, 1986. (Coleção educação e Comunicação, v.18)
FRIGOTTO, Gaudêncio. Os Delírios da razão: crise do capital e metamorfose conceitual no campo educacional. In_ APPLE, Michael; GENTILLI, Pablo (org.). Pedagogia da exclusão: o neoliberalismo e a crise da escola pública. RJ: Vozes, 1995 (Coleção estudos culturais em educação). Cap. 03