Notas de Leitura: “A Infância como Construção Social”, de Manuel Pinto (Final)

PINTO, Manuel. A Infância como Construção Social. In_ Pinto, Manuel; SARMENTO, Manuel Jacinto. As Crianças: Contextos e Identidades. Braga: Bezerra Editora, 1999.

     4. Contributos para uma sociologia da infância

Preocupado com a construção de uma abordagem sociológica da infância, Manuel Pinto, na última parte de seu artigo, discorre sobre algumas questões que considera essencialmente significativas para tal construção, a saber:

  • A necessidade de desconstrução das representações sobre a infância;
  • O reconhecimento dos mundos sociais das crianças enquanto dotados de um certo grau de autonomia;
  •  A contribuição da teoria da estruturação para o estudo sociológico da infância.

Quanto à questão das representações sobre a infância, considera que se deve ter como pressuposto o contexto sócio-cultural, cuja consideração é, podemos assim dizer, condição básica para “a desconstrução e análise crítica de imagens mitificadas e estereotipadas acerca das crianças”. Mais do que isso, afirma Pinto, é necessário distinguir “a infância entendida como determinada etapa da vida, compreendida dentro de certas balizas de natureza etária (de resto bastante variáveis), da infância perspectivada como conjunto social de características heterogêneas”. Assim sendo, o conceito de infância “está longe de corresponder a uma categoria universal, natural e de significado óbvio”.

Já a respeito dos mundos sociais das crianças, Pinto aponta que “as crianças têm algum grau de consciência dos seus sentimentos, idéias, desejos e expectativas, que são capazes de expressá-los e que efetivamente os expressam, desde que haja quem os queira escutar e ter em conta”. Além disso, acrescenta, “há realidade sociais que só a partir do ponto de vista das crianças e dos seus universos específicos podem ser descobertas, apreendidas e analisadas”.

Tais postulados implicam no reconhecimento de que (conforme Prout e James) “as crianças também constroem os seus mundos sociais, o ambiente que as rodeia e a sociedade mais vasta em que vivem”.

Resumidamente, segue o que, segundo o autor, podemos considerar destacadamente como aspectos relativos aos mundos sociais da infância: redes de amigos; expressões culturais infantis; novos papéis das crianças na vida doméstica; relações na vida familiar; linguagem; influências sobre os adultos; condições de vida das crianças; “modos diferenciados de como as crianças usam, se apropriam e atribuem sentido aos espaços, tempos, serviços e lógicas das instituições criadas pela sociedade adulto para a socialização dos mais pequenos”.

Por último, discutindo a teoria da estruturação e sociologia da infância, e recorrendo a Prout e James, Pinto apresenta sinteticamente as bases em que “poderá assentar a nova forma de abordagem dos mundos sociais da infância”. A saber:

  • Infância como construção social e, por isso, nem universal nem natural;
  • Infância como variável da análise social, associada a outras variáveis (como sexo e classe social), e cuja análise comparativa “revela uma grande variedade de infâncias”;
  • Necessidade de estudo das culturas e das relações sociais das crianças a partir de suas próprias perspectivas;
  • Consideração das crianças como sujeitos ativos em relação ao seu próprio mundo e à sociedade;
  • A construção de um novo paradigma de sociologia da infância corresponde ao processo de reconstrução da infância na sociedade.

A partir destas perspectivas, e citando Giddens, Manuel Pinto relembra que, conforme a teoria da estruturação, “as propriedades estruturais dos sistemas são, ao mesmo tempo, condição e resultado da ação dos sujeitos”, o que nos leva a concluir que, sendo assim, também as crianças, consideradas como atores sociais, tanto influenciam como são influenciadas pelo assim chamado “sistema social”.

Finalmente, o autor encerra argumentando que qualquer análise da infância baseada em apenas um foco estará prejudicada e, portanto, faz-se necessária uma “pluralidade de focagens” que, mais do que necessária, “constitui-se como uma condição essencial para um melhor conhecimento e valorização do lugar da infância na sociedade”.

Referências Bibliográficas

GRINBERG, Keyla. Contra Enganadores. In_ Revista de História da Biblioteca Nacional, nº 54, Março 2010.

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