Pessoas, acredito que ninguém duvida do meu compromisso com a educação das crianças, com a qualidade do trabalho pedagógico e com as famílias. E também não duvido do compromisso de vocês! Muito pelo contrário, aposto no compromisso de vocês e, por isso, enquanto diretor, sempre me envolvi organicamente com as questões pedagógicas da escola – por princípio como afirma nosso PPP, a administração escolar deve estar voltada para dar suporte ao pedagógico, ela existe em função do pedagógico.
Paulo Freire escreveu que ser professor e não lutar é uma contradição pedagógica – isso porque o compromisso com a educação nem de longe significa tão somente cumprir rigorosamente os horários de trabalho. Invejo quem diz que consegue cumprir regularmente suas 40h semanais, porque eu mesmo trabalho bem mais que isso!
Afirmo com toda a convicção que assumimos nosso compromisso pedagógico lutando por melhores condições de salário e de trabalho, e é por isso que estamos em greve.
Lutando por melhores condições de trabalho e de salário, ainda que temporariamente prejudicamos o calendario escolar, estamos colocando em prática o nosso discurso de formação para a cidadania, de sujeitos críticos e pensantes, de autonomia, de solidariedade, de construção coletiva, de compromisso com a educação etc.
O discurso sem a ação é discurso vazio, amorfo, burocrático, é efetivar aquilo que muitas vezes como professores falamos das equipes gestoras, que “o discurso é uma coisa, a prática é outra”.
Sei que há medos, desconfianças, dificuldades materiais concretas, mas somos ou não somos autores da nossa história? Acreditamos mesmo em tudo que ensinamos às nossas crianças, ou apenas reproduzimos o velho e autoritário lema: “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço?”.
Ou, de tão submetidos aos autoritarismos governamental e capitalista, nos sujeitamos à condição de meros espectadores das ações históricas que o funcionalismo público de São Bernardo do Campo está escrevendo no momento?
É possível que alguém diga que tudo isso não vai dar em nada. E eu respondo que, no terreno das possibilidades, o risco de não dar em nada existe sim, e este risco fica um pouco mais forte a cada vez que alguém se rende antes de entrar na luta, ou desiste no caminho. O nada, na verdade, nós já temos. Salários aviltados, salas superlotadas e falta de professores (perdi a conta de quantas vezes tivemos de dividir crianças este ano), nosso prédio nas condições precárias que sabemos bem, direitos sendo retirados, os cargos colocados em extinção, a terceirização galopante…
Pergunto: o que mais temos medo de perder?!
Do pouco que nos restou ainda não tiraram a nossa dignidade. E ao não entrar na luta, ao não aderir à greve, lamento dizer: estamos deixando que nos tirem a dignidade também.
O maior risco que temos com essa greve é de, juntos, transformarmos essa campanha salarial que começou praticamente natimorta em uma tremenda vitória dos servidores públicos!
Coragem, pessoas! Estamos juntos! A cada dia que passa mais e mais servidores públicos estão aderindo à greve.
Nesta sexta-feira foram seguramente mais de 6 mil trabalhadores às ruas lutar pela abertura das negociações e pela aprovação da pauta de reivindicações da campanha salarial.
O governo vai usar de mentiras, vai jogar com o medo, com a desinformação… Cabe a cada um de nós exercer a nossa autonomia, a nossa capacidade de pensar e de refletir criticamente, de discernir sobre o que é verdade e o que é mentira…
Cabe a cada um de nós apostar na unidade, com ou sem medo, mas com a certeza de que juntos somos fortes; sozinhos somos e sempre seremos frágeis, e facilmente submetidos aos desmandos dos governos de plantão.
Aguardo vocês nesta segunda-feira, 08h da manhã na Praça Santa Filomena. Vocês são sempre bem-vind@s!
Ser professor e não lutar é uma contradição pedagógica!!!