O que não se pode explicar…

 

Quantos abraços precisamos
(não mais que dois)
para que fique a saudade
de um antes e de um depois
inexistidos,

um tanto de quero-mais
e de bem-querer
contidos
numa vida incontida
ainda por viver?

Quantos silêncios
seriam precisos
para explicar
a preciosa e imprecisa
linguagem do olhar,

dos sorrisos compartilhados
em gestos espontâneos,
simultâneos, sincronizados
por encantamentos febris
em instantes sutis?

Quantos versos seriam
suficientes
para que não mais
ou mesmo de repente
explicar o pensamento

e ser capaz
de ver o que há por dentro
ou não - de um coração
que ao sabor dos ventos se abre
colhendo tempo e tempestade?

                       [M.S.]

 

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