I Ela tem o mundo - ela quis o mundo. Mas tem o mundo nas costas - a mãe doente e o mundo pesando mais que unha encravada no dedão do pé. Eu sei: ela não quis o mundo assim. Idealizamos algo além do paraíso E pensamos ter descoberto a fórmula / exata E pensamos alugar uma vida única e / sensata Mais que as cores do arco-íris. II ... um ateu ... alguém paciente uma risada ... o corpo estendido, mas retraído não parecia o que era não era o que parecia parecia perecia parceria ar e ria ... apenas comoção, lucidez, um trovão E a noite fria cortante nebulosa e cortante constante, contanto... III Ela fugia das respostas E muito mais das perguntas. Eu, angustiando em alma derretida, Em alma que nem acreditava existir Por não ter confiança própria Por esquecer que existe vida E que o Sol ainda se põe. Eu tinha um mundo Um universo, reverso, inverso / ao verso único isolado triste mas indiferente e para mim era tudo e tudo era simples Eu não queria mais nada Desconhecia e repudiava O que me fazia pensar Pois tinha tudo - estava certo, esperto (esperteza não é inteligência?) E bastava ser mais um no meio sempre aos cantos apenas mais um. IV Ela tem um caminho Eu também tenho (e às vezes uso um atalho) E temos já a desilusão... Sobre-humano é o esforço esboço de força Pincel com tinta azul Banhada em cera líquida branca Ou melhor, alva. E o alvo era calvo nem isso era era objeto objetivado substanciado substantivado Próprio, incomum, excludente sobrevivente impertinente não era alvo. V Ela tem os pés no chão E eu a cabeça embaixo do solo Aterrada por sufocante delírio ‘in vita’ (é estranho como as pessoas resolvem ir e nem tanto quando vão sem avisar. Hoje, as estrelas estão mais brilhantes e um gatinho rola no chão ao luar. No caminho, as flores sorriem caladas E os mortos certamente não se levantam) Sinto uma energia sincera me contemplar; Nos meus passos nem uma pedra nem uma gota Somente algum pássaro cantando solitário. [M.S.]
Imagem em destaque: montagem com foto do Google Imagens