Nebulosa

(Música de fundo: Força Estranha – Instrumental – Ricardo Pachá)
I

Ela tem o mundo
- ela quis o mundo.
Mas tem o mundo nas costas
- a mãe doente e o mundo pesando
mais que unha encravada no dedão do pé.

Eu sei: ela não quis o mundo assim.
Idealizamos algo além do paraíso
E pensamos ter descoberto a fórmula
                                                 / exata
E pensamos alugar uma vida única e
                                            / sensata
Mais que as cores do arco-íris.

II

... um ateu                  ... alguém paciente
                 uma risada
... o corpo estendido, mas retraído
            não parecia o que era
            não era o que parecia
                   parecia
                     perecia
                       parceria
                         ar
                          e
                            ria
... apenas comoção, lucidez, um trovão
E a noite fria cortante
               nebulosa e cortante
constante, contanto...

III

Ela fugia das respostas
E muito mais das perguntas.
Eu, angustiando em alma derretida,
Em alma que nem acreditava existir
Por não ter confiança própria
Por esquecer que existe vida
E que o Sol ainda se põe.

Eu tinha um mundo
Um universo, reverso, inverso
                                 / ao verso
            único
              isolado
               triste
              mas indiferente
              e para mim era tudo
              e tudo era simples
Eu não queria mais nada
Desconhecia e repudiava
O que me fazia
                        pensar
Pois tinha tudo - estava certo,
                                      esperto
(esperteza não é inteligência?)
E bastava ser mais um
                                     no meio
                sempre aos cantos
                apenas mais um.

IV

Ela tem um caminho
Eu também tenho
(e às vezes uso um atalho)
E temos já a desilusão...
Sobre-humano é o esforço
           esboço de força
Pincel com tinta azul
Banhada em cera líquida branca
                   Ou melhor, alva.

E o alvo era calvo nem isso era
                              era objeto
                              objetivado
                              substanciado
                              substantivado
Próprio, incomum, excludente
                               sobrevivente
                                 impertinente
                                  não era alvo.

V

Ela tem os pés no chão
E eu a cabeça embaixo do solo
Aterrada por sufocante delírio ‘in vita’
(é estranho como as pessoas resolvem ir
e nem tanto quando vão sem avisar.
Hoje, as estrelas estão mais brilhantes
e um gatinho rola no chão ao luar.
No caminho, as flores sorriem caladas
E os mortos certamente não se levantam)

Sinto uma energia sincera me contemplar;
Nos meus passos nem uma pedra
                            nem uma gota
Somente algum pássaro cantando
                       solitário.


                                                                        [M.S.]


Imagem em destaque: montagem com foto do Google Imagens

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