Carta aberta ao Prefeito de SBC, Orlando Morando

Olha aqui, #orlandomorando,

Você sabe da história, assim como grande parte da categoria sabe, de que no funcionalismo existiu uma fissura por muitos anos. Uma fissura alimentada pelo governo anterior, seu adversário; uma fissura criada a partir das diferenças de concepções políticas sobre organização e condução sindical; uma fissura que culminou em uma eleição sindical insana, a qual não falarei agora e que pessoalmente me fez tão mal que tive de me afastar da participação nas ações do sindicato, a qual eu pertenço e sou filiado há 24 anos – e que também afastou muita gente boa da participação nos movimentos e até nas lutas por nossos direitos.

Veja bem, Orlando, você apostou que os servidores municipais não iam entrar em greve; que a esmola oferecida de aumento real de 1,5% seria suficiente para comprar o silêncio da categoria; e que essa fissura que mencionei acima seria o bastante para desmobilizar os servidores. Afastado que estou, e diante da forma errática como as coisas por vezes acontecem, a princípio também não acreditei que teríamos tanta força.

Acontece, Morando, que para quem recebe o salário que mal dá para pagar as contas no final do mês, nem os remédios das doenças ocasionadas pelo trabalho cada vez mais insalubre…

Para quem recebe um auxílio alimentação que não paga dois pastéis e um caldo de cana…

Para quem ficou com progressões congeladas por anos; que teve redução na possibilidade de progressão vertical…

Para quem muitas vezes vai trabalhar a pé porque tem de escolher se come ou se paga o transporte…

Para quem teve o direito de aposentadoria cortado por você que foi na TV comemorar que servidores não conseguiriam se aposentar…

Para quem sofre assédios – moral e institucional; que vê as demandas aumentarem vertiginosamente de forma a afetar a saúde, a levar ao adoecimento…

Para quem sofre com a arbitrariedade e o autoritarismo de chefias e de secretarios seus, que não dialogam, que a despeito do discurso de (falsa) democracia, praticam o “cumpra-se!”, o “façam o que eu falo, mas não faça o que eu faço”…

Para quem sofre no ambiente de trabalho mais do que o sucateamento das condições materiais de trabalho, mas sobretudo o sucateamento das relações humanas, promovido justamente pela falta de diálogo e pela arbitrariedade sua, de seus secretários e secretárias e chefias…

Para quem assume com compromisso e competência o processo de inclusão, mas trabalha com crianças deficientes muitas vezes sem os apoios necessários, porque faltam cuidadores; e que pela falta de cuidadores veem as crianças em riscos sérios de acidentes…

Para quem teve o convênio médico sucateado, cada vez mais caro e que não cobre tratamentos de saúde de servidores e de servidoras que estão morrendo, Morando!

Você tem noção, Morando, de que servidores públicos da cidade que você administra estão morrendo por falta de tratamento em um convênio médico que você impôs?!

Para quem está submetido a constante situação de perigo porque você, Morando, tirou vigias das unidades escolares, das UBS e dos postos de serviços…

Para quem está com a reposição da inflação atrasada, com perdas salariais acumuladas em quase 19%…

Para quem, a despeito de seu (falso) discurso de responsabilidade fiscal, vê seus comissionados terem as gratificações das funções incorporadas aos vencimentos, enquanto seus vereadores aumentaram os próprios salários em mais de 25% em uma cidade cujo prefeito, que é você, recebe mais de 30 mil reais de salário, e seus secretários recebem entre 15 mil e mais de 25 mil!!!…

Então, Morando, como eu ia dizendo, para nós, servidores públicos municipais da cidade que você administra, que nos encontramos diversa e frequentemente de forma acumulada nas condições acima, tudo o que aconteceu das questões internas entre os servidores são secundárias, são águas passadas pelo moinho de seu autoritarismo e de sua intransigência, que se recusa a dialogar e a negociar com os trabalhadores.

Somos muitos, Morando! Somos diversos, não pensamos igual e temos nossas diferenças. Mas temos muito mais em comum, Morando! Compartilhamos das dores e tristezas de trabalhar em condições que nos adoecem cada vez mais. Compartilhamos da indignação pela falta de reconhecimento e de valorização de sua parte e dos seus. Discursos e promessas vazias não colocam comida em nossas mesas; não pagam nosso transporte que é um dos mais caros do Brasil; não pagam nossos tratamentos de saúde; não nos propiciam segurança no ambiente de trabalho.

Ninguém está em greve por esporte nem por gosto. O que gostamos mesmo é de fazer o nosso trabalho em nossas unidades, de atender bem a população, de oferecer educação de qualidade, cuidados com a saúde dos munícipes, segurança e zelo com os espaços públicos.

Estamos em greve por conta de sua intransigência, Morando! Por conta de tudo o que relatei acima e mais outro tanto que você finge não saber e, se não finge, não sabe porque não faz questão de ver, porque não se importa realmente com a qualidade do serviço público pois não se importa com quem faz o serviço público, que somos nós.

Pois então, Morando, segunda-feira às 6h da manhã estaremos todos na Praça Santa Filomena e ela será muito, muito pequena porque não caberá todos nós! Será o dia do basta! O dia do chega! Porque não temos mais condições de aceitar trabalhar nas condições que estamos trabalhando, e com vencimentos que não garantem uma sobrevivência digna e não condizem com as responsabilidades de nossos cargos e funções.

A você, Morando, está reservado um papel importante para o fim de nossa greve: faça um gesto de grandeza, de humildade, chega de intransigência! Negocie com os trabalhadores!

A nós, servidores públicos, está reservado outro papel igualmente importante: lutar, lutar e lutar! Ocupar as ruas, ocupar a Praça Santa Filomena, como um coletivo, como um conjunto, em uma só voz, QUE É A VOZ QUE SE FAZ TRANSMITIR PELO NOSSO SINDICATO, o SINDSERV E SUA DIREÇÃO, e que é a voz de trabalhadores e trabalhadores que sabem que este é o momento, esta é a hora, e que nenhuma diferença e nenhuma crítica está acima da necessidade de garantirmos condições dignas de trabalho e de salário para que possamos atender a população, as crianças, jovens e adultos deste município cada vez mais com a qualidade que eles merecem!

SEGUNDA-FEIRA, 03 DE ABRIL, ÀS 06 HORAS, FAÇA SOL. FAÇA CHUVA TODOS E TODAS À PRAÇA SANTA FILOMENA! É GREVE! É GRAVE! CHEGA DE INSTRANSIGÊNCIA! NEGOCIAÇÃO JÁ!!!

Marcelo Siqueira

Diretor Escolar – Profissional da Educação e Servidor Público Municipal de São Bernardo do Campo há 24 anos.

Um comentário em “Carta aberta ao Prefeito de SBC, Orlando Morando

  1. Republicou isso em e comentado:
    Olha aqui, #orlandomorando,

    Você sabe da história, assim como grande parte da categoria sabe, de que no funcionalismo existiu uma fissura por muitos anos. Uma fissura alimentada pelo governo anterior, seu adversário; uma fissura criada a partir das diferenças de concepções políticas sobre organização e condução sindical; uma fissura que culminou em uma eleição sindical insana, a qual não falarei agora e que pessoalmente me fez tão mal que tive de me afastar da participação nas ações do sindicato, a qual eu pertenço e sou filiado há 24 anos – e que também afastou muita gente boa da participação nos movimentos e até nas lutas por nossos direitos.

    Veja bem, Orlando, você apostou que os servidores municipais não iam entrar em greve; que a esmola oferecida de aumento real de 1,5% seria suficiente para comprar o silêncio da categoria; e que essa fissura que mencionei acima seria o bastante para desmobilizar os servidores. Afastado que estou, e diante da forma errática como as coisas por vezes acontecem, a princípio também não acreditei que teríamos tanta força.

    Acontece, Morando, que para quem recebe o salário que mal dá para pagar as contas no final do mês, nem os remédios das doenças ocasionadas pelo trabalho cada vez mais insalubre…

    Para quem recebe um auxílio alimentação que não paga dois pastéis e um caldo de cana…

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