Estamos em greve!

Estamos em greve!

Desde o dia 27 de Março os funcionários públicos de São Bernardo do Campo estão em greve, em sua maioria professoras e professores. Mas vocês sabiam que ao contrário do que pensam alguns, inclusive o prefeito da cidade, não gostamos de estar? Não gostamos de estar longe das nossas crianças, dos espaços de nossas escolas e dos nossos projetos. Ao contrário! Sabemos bem do papel que desempenhamos na sociedade e lidamos com sentimentos de culpa e frustração diariamente. Eu por exemplo, gostaria de estar fazendo tinta com o Urucum que deixamos secar, ele deve estar perfeito agora. Seria uma delícia escorregar no morro e ler história embaixo da sombra da árvore no gramado. Sem contar o calendário de abril que ainda não foi feito… Talvez o casulo já esteja vazio. Me pergunto também se perdemos a oportunidade de observar alguma chuva da janela. São tantas as narrativas que se fazem no cotidiano… Elas fazem falta! Fazem falta para as crianças, fazem falta para os professores. Não fazia parte do plano de ninguém parar, deixei um cartaz para terminar na sala dos professores, tesoura e cola também.

Parece contraditório, já que temos escolhido permanecer em greve, não é mesmo? Acreditem, não há contradição aqui. Entendemos que a Educação, assim como a escola, é viva e feita de muitos contextos que vão se alinhando, por vezes desalinhando. Há incômodos e dificuldades em nossos dias que vamos tentando driblar e passar por cima, para atender da melhor maneira nossas crianças. No apoio mútuo vamos fazendo acontecer o que é possível, porque só o que temos, como diz Emicida, “é uns aos outros”. Não pensem que não sinalizamos o que estamos em desacordo, nossas angústias e nossos entraves. Pontuamos, trocamos, buscamos estratégias e parcerias. Mas, noto que estamos cada vez mais sós, enquanto nossa demanda aumenta. Decisões são tomadas de maneira arbitrárias e contrárias ao que acreditamos ser garantia de qualidade, nos fazendo questionar se de fato foram pensadas por pessoas que entendem a complexidade da Educação e que queiram realmente garantir boas experiências e aprendizagens às nossas crianças.

Sair de nossas escolas e criar movimentos nas ruas para dar visibilidade a esses incômodos foi necessário e corajoso. Precisamos dizer que não está tudo bem, que estamos longe de estar bem e que precisamos de escuta. Educação como projeto emancipatório é construção que se faz no diálogo. Queremos uma Educação que seja permanência e continuidade. Não queremos em nossas escolas projetos que só dão boa publicidade e geram votos. Permanecer nas ruas, mesmo com tentativas do governo de diminuir, desacreditar e deslegitimizar nossa voz e nosso movimento para a cidade, é de uma coragem ainda maior, imensurável.

Ao contrário do que querem fazer a população acreditar, não somos massa de manobra do Sindicato, ele nos representa levando adiante nossas inquietações e decisões. Estamos sendo norteados pelos incômodos gerados pelas injustiças vividas por essa Gestão, e isso vai além de questões partidárias, lembrando que não somos nós que gastamos dinheiro público trocando as cores de uniformes, placas das escolas e muros para demarcação de território. Com muito assombro ouvi o prefeito da cidade levar nossa luta para o partidarismo, inclusive mencionando prefeituras vizinhas representadas pelo partido de oposição, para uma delas também presto meus serviços. Sobre isso gostaria de dizer primeiro que trabalhamos em São Bernardo do Campo, então a ótica de discussão deveria ser o que acontece na cidade, mas já que um comparativo foi feito, me sinto à vontade para continuar: saliento que na prefeitura vizinha, apesar de ser uma cidade com menos indústrias, menos arrecadação e de capital inferior, os salários e planos de carreira de seus funcionários são superiores, o vale alimentação não tem desconto caso o funcionário falte quando adoece, o vale transporte é pago de maneira integral e a campanha salarial de 2023 já está em curso, a programação da mesma está organizada e a mesa de negociação antecede a data de uma possível paralização.

Professor é trabalhador, necessita de dignidade salarial para garantir uma existência igualmente digna. Obviamente a greve também trata dessa demanda e isso é legítimo. O prefeito não se abriu para o diálogo, mais uma vez se articulou de maneira impositiva e esperava nossa aceitação. Queremos uma negociação já! Não na segunda quinzena de abril, incertos de tudo que será proposto. Nos ameaçar com os descontos, após dizer que respeita o direito de greve só gera mais indignação e agravamento da situação.

Ignorando a força da greve e querendo fazer a população acreditar que as crianças que estão indo para a escola estão sendo atendidas plenamente pelos profissionais que ainda estão lá, é um ataque ao direito de aprendizagem delas. Sinto dizer, que as crianças não estão sendo atendidas como deveriam e essa negação é o que está prolongando a greve e de fato está trazendo prejuízos. Os descontos nos preocupam, mas também nos preocupa não ter a possibilidade de repor as aulas para as nossas crianças. Entendem o tamanho do problema? Então eu me pergunto: para que? É uma queda de braço? Isso é política ou imaturidade/irresponsabilidade? De qualquer maneira, é cansativo jogar esse jogo. Mas, reitero que o cansaço maior vem do acúmulo de tudo que antecedeu nossa decisão de greve. Queremos voltar ao trabalho, é claro! Mas, não sem ser ouvidos, não sem seriedade, não com inverdades.

Nós da Educação desejamos e pedimos a GCM nas escolas há tempos, levantamos as problemáticas do Educar Mais desde a implementação, temos pontuado as perdas da substituição dos auxiliares por cuidadores terceirizados, ainda assim temos indicado a falta desses profissionais; muitas escolas estão clamando por reformas e manutenções além de pinturas, faltam profissionais de AEE para nos apoiar numa inclusão qualitativa, precisamos urgentemente de ações efetivas de órgãos além da escola (assistência social, conselho tutelar, atendimento multidisciplinar incluindo psicólogos, psiquiatras, neurologistas, fonoaudiólogos, etc.) para as situações que nos fogem.

Não estão nas ruas os profissionais da Educação que não querem trabalhar. Estamos nas ruas denunciando as dificuldades que estamos encontrando para exercer nosso trabalho. E não estamos tendo escuta! E isso também é uma denúncia.

Micleane Pereira Crispim
Professora

Carta aberta ao Prefeito de SBC, Orlando Morando

Olha aqui, #orlandomorando,

Você sabe da história, assim como grande parte da categoria sabe, de que no funcionalismo existiu uma fissura por muitos anos. Uma fissura alimentada pelo governo anterior, seu adversário; uma fissura criada a partir das diferenças de concepções políticas sobre organização e condução sindical; uma fissura que culminou em uma eleição sindical insana, a qual não falarei agora e que pessoalmente me fez tão mal que tive de me afastar da participação nas ações do sindicato, a qual eu pertenço e sou filiado há 24 anos – e que também afastou muita gente boa da participação nos movimentos e até nas lutas por nossos direitos.

Veja bem, Orlando, você apostou que os servidores municipais não iam entrar em greve; que a esmola oferecida de aumento real de 1,5% seria suficiente para comprar o silêncio da categoria; e que essa fissura que mencionei acima seria o bastante para desmobilizar os servidores. Afastado que estou, e diante da forma errática como as coisas por vezes acontecem, a princípio também não acreditei que teríamos tanta força.

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A greve de 2015 e os acordos de gabinete

“NEGOCIAÇÃO”…

A negociação realizada pela direção/chapa um trouxe grandes prejuízos aos servidores públicos: ficamos sem aumento real e sem reposição da inflação em 2015 e cerca de 200 aposentados foram excluídos do acordo coletivo, perdendo até mesmo o direito ao abono de Natal que sempre tiveram.

No meio da greve a pauta de reivindicação foi simplesmente descartada pela direção sem qualquer consulta aos trabalhadores. O reajuste efetuado em 2016 – fruto da pressão realizada pelos servidores grevistas – não cobriu as perdas salariais acumuladas em anos sem aumento real; o poder de compra dos servidores diminui a cada dia, consumido pela inflação, pelos altos impostos e pelas altas tarifas de água, luz e transporte. Continuar lendo “A greve de 2015 e os acordos de gabinete”

Assumiram de vez que nada mais são do que a chapa do patrão: chapatrão.

No boletim da CHAPA 2 – OPOSIÇÃO UNIFICADA denunciamos que, com o rombo de 1, 2 bilhões de reais, mais o aumento dos gastos com obras e a diminuição da arrecadação os funcionários correm sérios riscos de não verem cumpridos, pelo governo, alguns pagamentos e o acordo da Greve. Era esperado que o governo se manifestasse e garantisse que não há risco algum. Sabe quem reivindicou “direito de resposta” colocando a mão no fogo pelo Marinho, garantindo que a lei será cumprida, simplesmente porque “é lei”?! Pois é, a chapa 1. A chapa governista é rápida no gatilho em defender seu companheiro no paço. Não precisa dizer mais nada, né! Basta lembrar que a greve Tb é um direito estabelecido em lei (federal), e a péssima negociação da direção do sindicato levou milhares de servidores públicos a terem descontos salariais e faltas (mesmo compensando os dias parados).

Greve dos servidores públicos de SBC: Recuar? Nem pra dar impulso!

Chegamos ao 16º dia de uma greve histórica em São Bernardo do Campo, cidade conhecida como o berço do sindicalismo no Brasil; que viu nascer o Partido dos Trabalhadores – partido que durante anos foi referência das esquerdas no Brasil -; que abrigou Lula – uma das maiores lideranças sindicalistas do país, que veio a se eleger e reeleger presidente do país e sua sucessora por dois mandatos consecutivos – todos eles pelo PT -; que teve entre os ministros do trabalho de Lula também o ex-sindicalista Luis Marinho, que por sua vez se elegeu e reelegeu prefeito de São Bernardo do Campo…
Por ironia, farsa e tragédia, é nesta cidade, sob o governo do PT de Luis Marinho, que os trabalhadores públicos em greve estão sofrendo uma pressão assediosa para que deixem de fazer greve: boatos plantados por agentes de cargos de confiança do governo; bloqueio do acesso ao hollerih, que deveria estar disponível desde o dia 20; ameaças de corte de ponto e de atribuição de faltas; informações distorcidas… Tudo isso faz parte de um plano cruel e antitrabalhador para desestabilizar o movimento e impor uma derrota por meio do medo.
É preciso que a direção do sindicato determine que a assessoria jurídica  adote medidas preventivas imediatamente, (…)
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Sobre a greve, calúnias e necessidade de unidade na ação

Junto com outros colegas da Oposição Unificada faço parte do comando de greve, cuja criação foi proposta pela Oposição Unificada na assembleia do dia 07 de maio.

Infelizmente, na tentativa de desmobilizar os trabalhadores, antecipar de um modo muito sujo um debate de eleição para a direção do sindicato e claramente tentando fragilizar a Oposição Unificada, algumas pessoas, geralmente escondidas atrás de perfis falsos, estão publicando afirmações caluniosas contra a minha pessoa em específico.

Uma dessas calúnias diz respeito ao meu posicionamento em relação à greve dos servidores de São Bernardo do Campo, cuja proposta foi debatida e aprovada na assembleia do dia 07/05.

Assim que tiver um tempo vou publicar a transcrição de minha fala na assembleia (se possível publico o áudio também) para deixar claro que, em nome da Oposição Unificada, durante a assembleia fiz a defesa da greve, mas discordando da forma proposta pela direção, apresentamos ações complementares para a construção de uma grande greve dos servidores.

Chamamos a atenção para o fato de o vídeo publicado pela direção do sindicato mostrar apenas o momento da votação. Apresentado assim de forma fragmentada e sem contexto, induz a uma falsa interpretação do posicionamento da Oposição Unificada – posicionamento este representado pela minha fala.

Acontece que a proposta de construção de greve apresentada pela Oposição Unificada não foi colocada em votação (aprofundaremos o debate crítico sobre isto somente após a campanha salarial).

Portanto, esclarecemos: votamos (e não foram meia dúzia de pessoas, foram muitíssimo mais) contra o encaminhamento proposto pela direção, e não contra a greve em si.

Não seria estranho nós propormos a constituição de um comando de greve e ao mesmo tempo falar contra a realização da greve?

Diante de afirmações estranhas e que não condizem com a minha postura, peço a gentileza aos meus amigos e colegas que:

1. Sempre que lerem comentários que atribuam a mim atitudes não condizentes com as minhas práticas (que sempre foram em defesa dos interesses coletivos dos trabalhadores) duvidem. Desconfiem principalmente quando se trata de perfil falso. Caluniadores geralmente se escondem por trás do anonimato numa tentativa de não serem responsabilizados pelos crimes que cometem.

2. Façam um Print Screen e me repassem para que possamos responder às dúvidas e, em casos de calúnias e difamações, criar materialidade para fazer com que as pessoas que estão propagando calúnias e difamações respondam por seus atos.

3. Calúnia, injúria e difamação são crimes. Por isso, não compartilhem nem curtam posts que façam ataques pessoais e que claramente intencionam depreciar a imagem pessoal e atentar contra a moral e a honra alheia. Divergências de opiniões fazem parte da pluralidade humana; o debate e a crítica são necessários ao processo democrático e contribuem para a evolução dos pensamentos quando expostos de forma honesta e argumentativa, sem ofensas pessoais.

4. Na medida do possível, ajudem a desconstruir as calúnias, contestem, rebatam, coloquem em dúvida afirmações que vocês sabem que não condizem com a minha prática.

6. Por fim, compartilhem este post, para que possamos esclarecer a todos.

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O discurso de ódio, as ofensas pessoais, as injúrias e as calúnias, além de atentar contra a dignidade e a honra alheia, prejudicam a organização dos trabalhadores e só interessam ao governo e àqueles que fazem de tudo pela manutenção de seus egos e privilégios

O momento agora é de unidade na ação. Independente das discordâncias em relação à estratégia de construção da greve (e não em relação à greve) e ainda que nossa proposta foi prejudicada ao não ser colocada em votação, a assembleia é soberana e sua decisão precisa ser respeitada e defendida por todos os trabalhadores – mesmo aqueles que se manifestaram contrários à greve e também aqueles que não foram à assembleia.

 Acatar, defender e construir com o máximo empenho as propostas aprovadas em assembleia é obrigação de todos os trabalhadores e trabalhadoras. Por isso, a Oposição Unificada, mantendo seu posicionamento crítico em relação à direção sindical, contribuirá com a construção e consolidação da greve geral, que deve persistir até que o governo negocie a reposição e o pagamento dos dias parados e acate as reivindicações da campanha salarial.