Quando acaba o que chamamos de infância

NOTA DA PEDRA LASCADA: Em tempos neoliberais, as pressões por resultados se multiplicam, as demandas se intensificam e o trabalho se torna cada vez mais multifacetado, complexo e profundamente burocratizado, ao mesmo tempo em que as condições salariais e de trabalho se precarizam vertiginosamente. Como consequência, cresce o desalento e a sensação de que só nos resta deixar o corpo boiar e a onda do mar nos levar, até que em algum momento recuperemos energia para retomar as braçadas.

Na educação não estamos imunes a este, digamos, fenômeno sócio-econômico e, por vezes, percebemos em nós e em nossos colegas sinais de que estamos chegando num ponto em que nos perderemos, sem possibilidade de nos encontrar. Neste sentido, comenta-se, muito, da necessidade de que os educadores e as educadoras, e especialmente os professores, as professoras e os profissionais do magistério, se reencantem com suas profissões – tarefa giganteca, dado o contexto explicitado acima.

Eis que nos deparamos com reflexões como as formuladas pela professora Geovanna Gomes, em seu artigo “Quando acaba o que chamamos de infância“, e percebemos que é possível renovar o encantamento pedagógico; existem muitos caminhos a trilhar e ele passa não apenas em olhar para a frente, mas sim essencialmente recuperarmos o olhar para a infância, buscando reconciliar a infância passada e a infância presente, a criança que fomos, e que carregamos conosco, e as crianças com que lidamos… Essa é uma viagem por nós e a nós mesmos, viagem necessária para se apurar os olhares, os sentidos e a razão. Assim, convidamos você a ler o artigo, publicado originalmente no blog Somos Todos Educadores.

Boa leitura!

“A Menina Quebrada”, de Eliane Brum

Entre umas pedaladas aqui e outras ali (e dezenas de telefonemas para o banco BMG, que me tornou “cliente” à revelia), minha viagem no recesso e nessas férias será um caminho para dentro do mundo das palavras.

Um reencontro, um reencanto.

Para tanto, escolhi como companheira de jornada ninguém mais, ninguém menos que a jornalista/ escritora Eliane Brum, que se veste de palavras para por a nu os seus pensamentos mais profundos, dos mais variados temas (vida/ morte; política; meio ambiente; direitos humanos; memórias…).

Eliane Brum é uma cronista no sentido mais elevado do termo.

Preocupada e comprometida com a re-humanização dos sujeitos, extrapola a simples narrativa dos fatos e apresenta reflexões que resgatam uma dimensão humana ética, política e estética que nos é roubada cotidianamente pelo modo de produção e de relação capitalista.

Assim, em meio aos fatos e às narrativas dos fatos, Eliane nos presenteia com belíssimas lições apreendidas de suas experiências e leituras, como esta, irrefutável:

“É fácil compreender o desamor. O amor, não. O amor é um enigma”.

“A Menina Quebrada” (livro que escolhi como o primeiro a ser lido) é uma coletânea de colunas publicadas entre 2009 e 2013. Apesar de ser uma obra extensa (+ ou – 430 p.), o estilo envolvente de Eliane nos prende a atenção de tal maneira que nem se vê passar o tempo. Este terminei na semana do recesso mesmo. Tempus fugit.

A coluna que dá nome ao livro o fecha magistralmente. Não ouse a ler em primeiro lugar. Ou ouse. Mas leia !😉

📢💡👀❕

Eliane Brum é colunista do jornal El País e prorietária do site Desacontecimentos. Muitos de seus textos podem ser acessados livremente na internet.

Imagem em destaque: Capa do livro “A menina quebrada” e foto extraída do site El País.

Cantada

Você é mais bonita que uma bola prateada
de papel de cigarro
Você é mais bonita que uma poça d'água
límpida
num lugar escondido
Você é mais bonita que uma zebra
que um filhote de onça
que um Boeing 707 em pleno ar
Você é mais bonita que um jardim florido
em frente ao mar em Ipanema
Você é mais bonita que uma refinaria da Petrobrás
de noite
mais bonita que Ursula Andress
que o Palácio da Alvorada
mais bonita que a alvorada
que o mar azul-safira da República Dominicana

Olha, você é tão bonita quanto o Rio de Janeiro
em maio
e quase tão bonita
quanto a Revolução Cubana

[Ferreira Gullar]

Imagem em destaque: Pexels